sete meses depois, voltei. não fugi, não me esqueci do blog; não poderia fazê-lo, irremediavelmente, é parte de mim... apesar das ausências constantes, dos silêncios profundos, das pausas longas... este blog é um pedaço de mim e eu sou feita dele. também ele fez um pouco de mim: ajudou-me a perceber-me sempre que me 'personifiquei' em palavras; mostrou-me que existe um mundo para além de mim que é aquele que eu construo nos meus sonhos; deu-me a entender que existe muito mais para além daquilo que eu consigo abarcar pelos meus sentidos; (...) este blog é, no fundo, um mundo dentro de mim porque, para além de reservar alguns anos da minha vida, guarda aquilo que de melhor tenho: o delinear suave de uma mão cheia de projetos felizes. e é tão bonito regressar e (re)ler o que escrevi em tempos passados que, inevitavelmente, construíram os tempos presentes e tornarão possíveis os tempos futuros. gosto imenso de escrever, mesmo! (caramba) sou tão feliz a escrever; ao som de um piano que nunca me desilude: a suavidade de um timbre incomparável, as notas inexplicáveis, o toque doce de uma música que não precisa de voz. é tudo tão bonito quando escrevo. e talvez hoje tenha sido o dia. escrevi imenso nos últimos tempos, mas não o fiz no computador; o bloco que carrego diariamente está cheio de textos longos, repletos de metáforas e antíteses - sempre disse que a minha vida era uma verdadeira antítese - que vão verbalizando o caminho que percorro, todos os dias. gosto muito do caminho que tenho feito, acho a minha caminhada bonita de se ver e viver. tenho construído tudo com tanto amor e carinho que fico orgulhosa de mim. há dias percorri o Porto com uma das pessoas mais importantes da minha vida (e falo do Porto porque tem sido o lugar onde tenho passado, obviamente, a maior parte do meu tempo) que foi, muito provavelmente, a melhor surpresa de 2014, uma das pessoas que tornou o meu mundo (tão) mais bonito - o meu namorado - e, concluído o primeiro semestre do segundo ano, fazendo uma retrospetiva, aprendi tanto nestes últimos seis meses. o Porto faz-me, mesmo sem querer, uma pessoa completamente diferente: muda-me, troca-me as voltas, esgota-me por completo, leva-me à exaustão, faz-me suar, (...): primeiro porque exige de mim aquilo que eu sabia que iria exigir mas não estava preparada e, segundo, porque me ensinou e isso é, sem margem para dúvidas, para mim, o mais importante: que ninguém pode ser aquilo que verdadeiramente é. todos nós, sem querer e porque tem de ser, usamos máscaras. confesso, a primeira vez que tentei ser o que sou, destruíram-me, completamente. as 'pessoas citadinas' são muito diferentes de nós, da terra, da aldeia, da vila. complicam, refazem, inventam, competem, não vivem, sobrevivem. é por isso que, por muito que o Porto me faça feliz, eu tenho que voltar à minha base: ao cheiro da terra cultivada, ao silêncio de uma estrada que dorme, à montanha que aparece do outro lado da janela, ao campo que não deu origem a uma estrutura. sou (muito) feita disto. e tenho tanto orgulho. o Porto vai formar-me profissionalmente e pessoalmente, de outra forma não seria possível, mas há algo de basilar que eu trago da vila e quero levar daqui, comigo, para onde quer que eu vá: as minhas recordações mais bonitas, as minhas lembranças, as minhas raízes mais profundas que fazem de mim aquilo que eu sou e não consigo ver nos outros. sou muito eu, eu sei. mas sou mais feliz assim. gosto imenso do Porto, mas não percorria o meu caminho da mesma forma se usasse a máscara que uma vida na cidade exige. tão difícil de explicar. talvez faça falta o silêncio que não existe, o sorriso nos rostos desconhecidos que se cruzam diariamente, talvez. boa noite.
tenho tido tantas conversas de verão, conversas de café ao som da natureza que envolve a vila, conversas simples com sorrisos simples - é por isso que eu gosto do verão e este ano ainda mais: porque me trouxe de volta às minhas origens, porque me deu de novo a paz de acordar perto de um silêncio incomparável, porque me aproximou das pessoas que o meu primeiro ano de faculdade me afastou,... eu voltei e há dias quando me perguntavam o que mudou em mim depois deste primeiro ano eu fiquei, irremediavelmente, perpetrada num minuto de silêncio que extravasa qualquer nostalgia, qualquer momento melancólico e eu sentia uma vontade enorme em dizer tanta coisa que acabei por me render ao silêncio e só depois de baixar o olhar é que me verbalizei. é verdade, muito do que eu sou é fruto do que o porto fez de mim: os primeiros tempos foram muito duros, sentia-me tremendamente perdida, vazia e presa à relação simbiótica que sempre teci com a minha irmã e com a minha mãe e que, 17 anos depois, não estavam comigo ao acordar, ao almoço, ao jantar,... e isso foi, muito provavelmente, o mais dificil de superar - a mudança mais brusca. e depois, como não poderia ser de outra forma, o ruído sempre constante de uma cidade que não pára, as luzes ligadas de uma noite que não podia ser escura, a indiferença dos rostos que se cruzavam com o meu e a solidão de estar rodeada de gente desconhecida. não foi fácil mas eu tinha que escrever uma história nova e confesso que nos primeiros tempos eu aprendi, antes de mais, a estar sozinha; aprendi a construir a minha própria força e comecei a sentir-me independente, mais dona de mim própria, mais capaz de fazer as minhas próprias escolhas e reaprendi a andar, reaprendi a ver as coisas e a sentir falta do que eu achava que tinha em demasia - as palavras da minha mãe. mas fiz amigos, conheci pessoas que espero que continuem a escrever comigo a minha história e as quais foram cruciais para a minha adaptação. conheci lugares novos e percebi que a beleza existe, basta observar o belo num olhar que ultrapassa o óbvio, passar para o lado de lá, ir mais além sem sair do mesmo lugar... por opção própria, em tardes livres, eu visitava o porto sozinha, nas primeiras semanas eu percorria ruas só eu e só comigo - sempre achei que se eu visitar sozinha já não vou ter a tendência de me reservar ao grupo de pessoas que levo comigo e torno-me mais exploradora - e isso levou-me a perceber que há coisas que o tempo não apaga, mas perpetua: as histórias das gentes, das pessoas que contavam oitenta anos e vida e se sentam, ainda hoje, nos bancos dos Aliados a contar o que nunca viram mudar. e como é bela a cidade. e como foi belo o meu primeiro ano de faculdade. apesar dos tempos dificéis, que englobam a adaptação, só trago boas recordações da invicta. e no dia do meu último exame trouxe o sorriso rasgado de saudade. acho tão bonito ser-se feliz assim, de forma simples. e o meu curso surpreendeu-me tanto. voltei, mas em setembro regresso. e que feliz que fico por saber que assim é.