poderia dar muitas voltas à vida, recuar no tempo, atrasar relógios e rasgar calendários. poderia ter pintado os dias de uma outra cor, ter escolhido um outro pincel, o desenho poderia ter sido diferente e o resultado final poderia obter algo de anormal.
no entanto, os teus olhos teriam sempre a mesma cor. o teu sorriso possuíria sempre a mesma forma e a tua face não mudaria a sua expressão. permanecerias igual, como hoje o és e cometerias o mesmo erro, como cometeste. sabes bem que pensar em ti faz-me mal, cansa a mente, dá voltas... criaste nós, fizeste laços, desenhaste, pintaste. o esboço foi teu. dei-te um papel e fizeste de mim o teu lápis.
acreditei vivamente nas promessas que me fazias quando me olhavas nos olhos, eu acreditei nos momentos que me fizeste viver, acreditei no teu sorriso, naquilo que dizias com voz forte. acreditei nas tuas histórias, nesse amor que em tempos criaste. fiz de ti protagonista de uma história de vida inacabada. idealizei-te sonhos, manuseei-te uniformemente, dei-te um todo onde tu pudeste usufruir de um conforto inesplicável.
no entanto, desenhos foram feitos. histórias contadas, promessas ditas e prometidas em vão, palavras soltas, sonhos sonhados e pensados mas nunca realizados.
tu seguiste, como se te fosse proposto algo irrecusável. e eu sabia que atrás da minha sombra estava uma luz maior. mas mesmo assim, não tinhas esse direito. feriste, partiste, usaste e no final de contas, encerraste para obras.
vou só esconder as peças do coração debaixo da almofada, e quando tiver tempo reconstruo-o... peça a peça. pego num novo papel, faço um esboço recente de quem nunca soube o que era uma ilusão... e voltarei amar.
mas se isto acabou é porque algo de melhor está para chegar.
a alma está leve, não se sub-carregou como a que suportas. tens arrependimentos, guardas rancor, precipitação, ilusão, lixo que te entope o sentimento. foi preciso muita coragem tua, parabéns. deste um grande passo...

(um agradecimento á Isaura, á Leonor, á Raquel e á Lili.)