eu não tenho por hábito pedir a ninguém para ficar comigo, para sempre... as pessoas ficam se tiverem que ficar; elas escolherão-me a mim para ser a sua eternidade se tiver que ser, não são promessas nem pedidos que lhes darão motivos pra simplesmente não partirem... porque elas partem, mesmo assim; mesmo que a gente páre, peça, implore,... eu pedi à minha irmã pra ficar e no entanto ela foi. eu pedi ao meu pai pra ficar e no entanto ele foi. eu pedi-te a ti pra não ires e no entanto também tu foste. vocês sempre vão. é fácil olhar-me nos olhos, agarrar-me na mão e dizer-me "eu vou ficar"... difícil é fazê-lo; é tornar eterna a presença de alguém que veio; é muito difícil guardar alguém pra nós desde sempre. raros são os Homens que vêm e não vão. mas todas as pessoas que partiram da minha vida continuam nela, mesmo sem saberem... mesmo que pensem que eu não penso nelas, elas vivem comigo, diariamente e eu sou feita delas. cada uma delas me pertence e cada ruga deste rosto, cada traço deste sorriso, cada passo deste andar tem uma marca que me deixaram. as batidas que o meu coração tem são o timbre da música que todas elas cantaram pra mim enquanto estiveram comigo. e eu sou a soma de todas elas, mesmo sem eu querer. por isso é que eu digo que sou feita de pessoas... é por isso que sempre me falta algo, porque elas me faltam, também... e quando me perguntam o meu nome eu gostaria de dizer o nome de todas elas, aquelas que foram e nunca mais voltaram, as que ficaram e as que ainda não vieram... e os calos que carrego nas minhas mãos são marcas da caneta que me obriga a dizer-vos o que sinto, quando tem de ser; é ela que me pede para vos escrever e eu sinto que devo fazê-lo. e de todas as marcas que guardo, a saudade é das marcas mais bonitas que carrego. venha quem vier, eu também sou saudade. metade de mim morreu quando vi os meus partirem e por isso eu penso que hoje vivo com metade de mim e eles vivem com a outra metade. parece antagónico, mas é a minha realidade. gostava antes de pensar em mim quando penso neles. porque pensar neles faz-me pensar no lugar vazio que eles deixaram e que ninguém preenche. por isso... agradeço-lhes os momentos, mas culpo-os por fazerem passado aquilo que poderia ser um presente.